sexta-feira, 18 de março de 2011

Cacofonia!

Cacofonia!

Aqui há uns tempos, escrevi uma crónica onde dava as minhas humildes opiniões sobre o acordo cacofónico, respeitante às mudanças brutais e na sua grande maioria injustificáveis no nosso futuro dicionário.
Escrevi e enviei individualmente por e-mail a umas trinta pessoas, familiares, amigas ou conhecidas.
E se enviei individualmente, é porque os meus conhecimentos nas novas tecnologias ainda se encontram nos primórdios do conhecimento. Não sou nenhum craque com o meu computador, nem tenho a pretensão de o vir a ser. Contento-me e fico satisfeito, em ter aprendido a transpor para o meu computador as minhas opiniões, que felizmente não são as mesmas de muitas outras pessoas. Se assim não fosse, as minhas opiniões não fariam algum sentido. Expresso no papel, aquilo que me vai na alma.
Para voltar aos e-mails enviados, alguns dos destinatários não puderam sequer abrir o anexo.
Aqueles que o conseguiram abrir e que me responderam, não foram muitos mas foram bons.
Tive mensagens de Professores, Doutores, Engenheiros, Formadores e mesmo um deputado que faz parte actualmente da nossa classe política, que me incentivavam a continuar elogiando o trabalho efectuado.
Sobressaiu-se no entanto, a mensagem de um amigo doutor com uma questão pertinente.
Dizia ele, que tinha dúvidas de que o acordo ortográfico lesasse de algum modo a nossa escrita. Acrescentava ainda que nós temos que evoluir e que caso contrário, ainda hoje escreveríamos Pharmácia, em vez da actual Farmácia.
Foi o único argumento como exemplo (mas com certeza que haveria outros que ele poderia ter citado), porém, como foi o único eu aproveito para dizer na minha boa fé, que esse argumento era justificável pois que, ao expressarmos verbalmente essa palavra, nós pronunciamos o F e embora a nossa língua derive do Latim, penso que isso actualmente confundiria as pessoas, terem que escrever um F com um Ph. Essa mudança tinha portanto uma justificação razoável. Aliás, há cerca de 55 anos eu já aprendi a escrever essa palavra com um F. No actual acordo, pouco ou quase nada justifica uma tão abrangente e radical mudança.
Actualmente o que se está a fazer, é provocar um autêntico sismo ortográfico e um verdadeiro atentado à nossa escrita. A grande maioria dessas mudanças, não tem argumentos fundamentados que a legitimem e é justamente por que não se justificam, que eu sou contra essas medidas tão radicais. Não vão de mão leve. É logo à marretada. Se apenas mudassem aquilo que evidentemente precisa de mudar, eu concordaria plenamente.
O pior, é que a maior parte das mudanças limitam-se apenas a que nos subjuguemos ao dialecto de uma ex-colónia, que recusa ou não consegue ensinar, a bela língua Lusa aos seus habitantes e que se afasta cada vez mais da língua portuguesa.
Isto é de uma subserviência total a terceiros, intolerável e um grave ataque à nossa cultura e soberania, com a agravante de ter sido praticada por indivíduos portugueses, que deveriam ter como prioridade a defesa do nosso património linguístico, protegendo a nossa escrita e a nossa língua. Apresentaram-nos como pretextos, sofríveis, muito fracos, discutíveis e estúpidos argumentos que só me dão razões para me opor a essas radicais ilegítimas e traiçoeiras mudanças.
Vou descrever-vos na medida do possível, como foi que me ensinaram a ler o português nos fins da década de 50. Com um currículo de apenas 3 anos de escola, quando dela saí com o diploma da 4ª classe, já há muito que não errava na escrita. Mais precisamente, depois da segunda metade da minha segunda classe, que foi também o meu primeiro ano escolar. Quando se tratava de ler uma palavra com um c antes doutra consoante “ç, ou t “o professor mandava-nos abrir mais o a ou o e. Por exemplo; efrácção, infrácção, ácção, áctual, inspécção etc. Pronunciávamos como se o a ou o e tivessem acento, quando na realidade não o tinham. O mesmo se fazia, com báptismo.
Nas palavras; recepção, concepção e cepticismo, pronunciávamos ligeiramente o p. Foi sempre assim que eu me expressei verbalmente e nunca ouvi da parte de quem quer que seja (Professores, Doutores, Médicos, Engenheiros ou aAdvogados) uma única palavra de reprovação.
Se, em vez mudarmos aquilo que deveria ficar imutável, ensinássemos a juventude a pronunciar correctamente o que dizem ou lêem, toda a gente compreenderia as especificidades que caracterizam a nossa bela língua portuguesa
O próprio Professor quando nos ditava uma história ou um texto, nunca se esquecia dessa dicção. Dessa maneira ele relembrava-nos o que nos tinha ensinado. Também quando líamos, ele queria que nós fizéssemos o mesmo, dizendo ele que era assim que se liam aquelas palavras. Dando-nos ele o exemplo, era-nos mais fácil segui-lo. Ainda hoje é assim que eu me exprimo, quando leio em voz alta todas estas palavras e mais algumas. Era com sofreguidão, que eu aprendia não só o nosso português, como todas as outras disciplinas.
Infelizmente hoje em dia, os professores não insistem na dicção das palavras. Nesse tempo, a maioria dos professores do então Ensino Básico tinham apenas o 7º Ano do Liceu (equivalente ao actual 12º Ano), mas sabiam impor regras e disciplina na sala de aulas, onde efectivamente havia mais respeito ou temor pelo Professor, que sabia cativar os alunos mais estudiosos e que realmente fazia penetrar na massa cinzenta desses alunos, a sua bagagem de sabedoria.
E apenas com essa escolaridade, muitos desses professores do Ensino Público (masculino ou feminino) e com pequeníssimos salários, transformavam-se em excelentes professores. Professores de fazer corar de inveja, alguns actuais docentes, baronesas ou barões do ensino público, confortavelmente instalados nos quadros da carreira docente, sem o mínimo de reais competências. É por isso, que muita gente procura o Ensino Privado. Paga-se, mas aprende-se mais e melhor. Não é por acaso que em Portugal, as 10 melhores escolas são no ensino privado e nas 10 seguintes, só se encontra 1 ou 2 escolas Públicas.
Nas escolas Públicas, imperam não só a violência e a droga, como reinam o chumbo, o absenteísmo e o abandono escolar. Provas mais do que suficientes, para que digamos que no Ensino Público a violência e a anarquia fazem parte do quotidiano. Se o pobre Leandro pudesse falar, muito nos diria.
É que naquele tempo, não era qualquer um que entrava para o ensino secundário e muito menos no superior. O fim do ensino secundário, já era uma boa premissa para o futuro.
Para voltar ao acordo ortográfico, esse meu amigo disse-me que se preocupava muito mais com o massacre que os jovens de hoje fazem ao nosso vocabulário e à nossa escrita, do que ao dito acordo ortográfico.
Eu, já há muito que condeno essa linguagem e escrita, que qualificarei simplesmente de obscena. Seria bom que alguém pusesse cobro a esse calão ordinário, impróprio da nossa cultura vocabular. Essa forma de expressão, passa-se por vezes nas salas de aulas e em frente aos professores. Numa Escola que se preze e mais ainda numa sala de aulas, não se pode tolerar esse palavreado para não dizer palavrões, com origens na marginalidade. Bué da fixe, k, kuanto e outros grunhidos, devem ser sistematicamente excluídos e banidos com firmeza, não só das nossas salas de aulas, como também dos recintos escolares (pátios ou espaços exteriores, pertencentes à instituição).
Condeno essas palavras (vindas da promiscuidade e da dependência a substâncias tóxicas e nocivas à saúde e à moral), a que uma grande parte dos nossos jovens se prestam e mesmo alardeiam, como se realmente essa espécie de grunhido, os regalasse como a melhor das guloseimas. As mensagens desse género por telemóvel ou e-mails, abundam.
Hoje nas aulas, as réguas desapareceram e com elas as boas maneiras, mas continuo a dizer que a nossa língua tanto escrita como falada, é por todo o mundo o símbolo da nossa cultura e não nos devemos rebaixar, a falar um dialecto subalterno. A nossa língua deve ser como o nosso País. Soberana!
Frente àqueles energúmenos, que decidiram abastardar a nossa escrita num novo dicionário eu digo-lhes; grandes filhos da “mãe”.
Seria rebaixar-me demasiado, para gente sem porte e que trai a Pátria!
Mais vale tirar-lhes o retrato, a essas serpentes.

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