sábado, 2 de fevereiro de 2013

Aprendizagem!


Aprendizagem

Num dia de inverno!

 

Num “belo” e frio dia de inverno de 1985, de manhã cedo, enquanto inspecionava os trabalhos efectuados durante a noite finda nas estações do metropolitano da cidade de Lyon em França, fui interpelado na Estação Hotel de Ville, por duas jovens adolescentes bem vestidas e não parecendo minimamente necessitadas, que me pediram uma moeda. Olhando-as friamente nos olhos, respondi-lhes secamente que não dava dinheiro para comprar droga, mas que preferia oferecer-lhes um bom e quente pequeno-almoço. Elas recusaram e eu continuei o meu trabalho.

Passada cerca de meia hora, passei de novo por elas e mais uma vez elas me abordaram, mas desta vez para me perguntarem se a oferta do pequeno-almoço se mantinha. Eu respondi-lhes que sim. Cerca de dez minutos, depois, estávamos os três sentados bem ao quente no interior de um café, onde pedi um café para mim e deixei-lhes a escolha de pedirem o que quisessem. Elas pediram croissants quentes e meias-de-leite. Enquanto devoravam o pequeno-almoço tentei convencê-las a voltarem para casa, dizendo-lhes que aquela vida não era uma boa escolha para elas e que os familiares, estariam decerto muito preocupados.

Enquanto eu falava, elas foram parcas em palavras. Pouco ou nada disseram. De vez em quando anuíam com um gesto de cabeça, àquilo que eu dizia. Quando acabaram o pequeno-almoço, agradeceram-me a gentileza com um bisou (beijo na face) e foram-se embora. Olhando com atenção para elas, deduzia-se facilmente, que não se sentiam à vontade no papel que tentavam representar. O de potenciais, tóxico-dependentes.

Passaram-se vários meses e já durante o Verão, encontrava-me numa outra Estação do Metro, quando um homem acompanhado por uma jovem que não reconheci imediatamente, me dirigiu a palavra.

Apresentou-me a jovem adolescente como sua filha e disse-me que tinha sido ela mesma que tinha insistido com ele, para que viessem pessoalmente agradecer-me o que tinha feito por ela e pela amiga, no inverno passado. Ela abraçou-me e fez-me a bise, ao mesmo tempo que me dizia que duas horas depois daquele pequeno-almoço, elas já se encontravam as duas em casa dos pais. O pai agradeceu-me a gentileza do pequeno-almoço, mas principalmente os conselhos dispensados. Ainda me perguntou desajeitadamente quanto me devia pelo pequeno-almoço, mas eu respondi-lhe simplesmente que; se havia alguém neste caso que devia qualquer coisa, esse alguém seria eu pois que as jovens ao regressarem a casa, retribuíram-me duplamente. Ao dizer aquilo, eu sentia sinceramente que o que fiz foi simplesmente seguir os meus princípios e valores e que isso não tinha preço.

Quando eles se foram embora eu senti-me feliz e emocionado, por de alguma forma ter contribuído para o regresso a casa e ao bom caminho daquelas jovens. Afinal eu pensava que elas não me deram ouvidos e felizmente enganei-me.

Aprendi com esta pequena história da minha vida que; se dar de comer a quem tem fome é uma obrigação moral, dar bons conselhos é um dever do qual não nos devemos privar.

Fazer ou espalhar o bem deve ser um motivo de alegria, tanto para quem dá, como para quem recebe.

Foi esta atitude, nesta e noutras histórias da minha vida, que me fizeram crescer como ser-humano e que se deve única e exclusivamente, à educação que os meus Pais me incutiram enquanto jovem.

Não me deixaram rico, mas deixaram-me um grande legado humanitário. Saudosamente, Bem Hajam!

 

M. A. R. Da Silva

Sem comentários:

Enviar um comentário